17.05.2008
Médicos de hoje
--- Walter Medeiros
Quando a dor é daquelas que não dá nem tempo para pensar
em chá - auto-medicação nem pensar - ou os sintomas
fogem da assistência caseira que vai até um
Sonrizalzinho para aquele empachamento de quem comeu
demais, não tem para aonde correr: o negócio é procurar
um médico mesmo. É ele quem vai diagnosticar o problema
e recomendar os tratamento ou intervenções tecnicamente
aplicáveis ao caso.
Essa idéia vem se consolidando com o tempo, desde que
acompanhava meus parentes para consultas ou cirurgias
com Dr. Hellen Costa, Dr. Dary Dantas, Dr. Ernani
Rosado, Dr. Dutra, Dr. Joaquim Elói, Dr. Ayrton
Wanderley e tantos outros, cujos nomes eram citados
respeitosa e carinhosamente por toda população. Todos
eles são exemplos de médicos que passavam segurança para
os clientes, pela competência generalista e
solidariedade demonstrada a cada momento, desde o
primeiro contato com as pessoas.
Mais recentemente - nos últimos trinta anos, pelo menos
- acompanho a trajetória de outros médicos, que
atenderam às minhas necessidades de saúde. Dr. Edson,
aquele urologista do antigo INAMPS; Dr. Câmara, lá no
IPE; Dr. Rocha, nosso anestesista; Dr João Batista
Borges, ortopedista e conselheiro; Dr. Pedro Atiê,
saudosa figura; Dr. Manoel Marques, cirurgião infantil;
Dr. Sebastião Paulino, o urgentista; Dr. Francisco
Rodrigues, PhD em Dependência Química; e o amigo
Tarcísio Gurgel, pediatra, perito e generalista - são
mais exemplos de competência e atenção.
E os tempos foram mudando. Aqueles modelos de médicos
dedicados, qualificados e atenciosos foram escasseando,
para dar lugar a especialistas que lembram Lair Ribeiro,
quando dizia que “para quem tem somente um martelo, todo
problema é prego”. Nada contra a especialização, mas
existe um inegável exagero, que deságua nas máquinas e
exames excessivos e desnecessários, encarecendo os
tratamentos de saúde.
Agora não é só a sociedade que clama por atenção,
qualidade e humanização. Uma parte dos médicos fica
constrangida ao ver os colegas com posturas arrogantes,
anti-éticas e anti-sociais, pondo em risco o bom nome da
categoria, historicamente tão respeitada. São esses
vilões que fazem a população generalizar e desacreditar
de consultas relâmpagos, recomendações estranhas e
apressadas e erros sucessivos.
O corporativismo tem feito mal aos bons profissionais,
pois à guisa de proteger colegas de jaleco, toda a
categoria leva a culpa pelo comportamento nocivo de
alguns maus profissionais. Como certos médicos, que “se
acham” e desrespeitam todos os demais profissionais de
saúde.
Isso tudo resulta em gestos (se é que ato desumano se
pode chamar de gesto) como aquele do médico do Posto de
Saúde do Cidade Satélite, que deixou a clientela
esperando durante até três horas seguidas, enquanto
ajeitavam o aparelho de ar-condicionado, por não se
dispor a atender provisoriamente em outro ambiente. Ele
faz isso porque aposta na impunidade; mostra que não tem
o menor respeito pelos usuários, que pagam o seu salário
e se esconde do clamor popular, que pelo menos começa a
ser registrado na imprensa.
---
*Walter
Medeiros é jornalista e bacharel em Direito em Natal-RN. Autor dos
livros “Onde está o atendimento?” Ed. Viena e
"Abelardo, o alcoólatra"
( http://paginas.terra.com.br/arte/cordel/ap009Abelardo.htm
).
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